MANIFESTO DA DIRECÇÃO: Este blogue “www.sortesdegaiola.blogspot.com”, tem como objectivo primordial só noticiar, criticar ou elogiar, as situações que mais se distingam em corridas, ou os factos verdadeiramente importantes que digam respeito ao mundo dos toiros e do toureio, dos cavalos e da equitação, com total e absoluta liberdade de imprensa dos nossos amigos cronistas colaboradores.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012




Pedradas no Charco - Eng. José Zuquete




Sevilha – 23 de Setembro

José Mari Manzanares - toureiro de sonho

Saí de casa às 8 da manhã, num dia muito enevoado e chuvoso, mas com a fé interior de que a corrida se iria realizar. Que diabo, com Manzanares em Sevilha, de certeza que não haveria chuva!
Depois de ligeira hesitação, arrancámos – eu e o meu irmão Tó, direitos a Marinhais, primeira etapa para Sevilha, onde fomos encontrar o nosso amigo João António Carvalho Rosa, que connosco seguiu. De Marinhais seguimos para Montemor onde nos aguardava o nosso amigo Paquete.
Após breve reunião os quatro decidimos arrancar para Sevilha, apesar do tempo continuar entroviscado.
Chegámos a Sevilha às 2 da tarde, e logo nos dirigimos a Puebla del Rio, Finca del Rocio, propriedade do meu amigo Angel Peralta, que nos brindou com um excelente almoço – guisado de rabo de toiro, que estava divinal. Gracias Angel, como sempre um senhor.
Chegámos à maestranza trinta minutos antes do início da corrida. E que corrida… um mano a mano entre Manzanares e Talavante, com toiros de Nunez del Cuvillo e Juan Pedro Domec.
O que passo a descrever é realmente um sonho. Manzanares vestido de azul e oiro tem qualquer coisa de Deus do Olimpo. A maneira como pisa, como anda, como movendo-se numa igreja, é algo de indescritível.
E saiu o primeiro toiro castanho de Nunes del Cuvillo, bonito de olho de perdiz. Já antes José Mari se tinha dirigido à porta de gaiola, onde, de joelhos, se benzeu, numa atitude impar, com algo de místico à mistura. Com o capote deslumbrou. Verónicas de sonho pelo piton direito e esquerdo, com remates de maravilha. Depois de bem cuidado nas varas, e bem bandarilhado, que grande quadrilha tem Manzanares, o toiro passou à muleta do matador. E aí, meus amigos, libertou-se o perfume do toureio de Manzanares. Muletazos tremendos, de uma profundidade angustiante. Toureio sem invenções, toureio de verdade, que nos conforta a alma e nos engrandece o espírito.
A música juntou-se ao delírio do público até aí anestesiado pelo toureio de José Mari.
Mudou de estoque e preparou-se para matar. Um silêncio profundo instalou-se n maestranza, silêncio de respeito, angústia e ansiedade. Perfilou-se o matador e pleno de tremendismo, recebeu o toiro, matando a receber.
Duas orelhas foi o prémio que a juntar a uma orelha que cortou no quinto da corrida lhe deu direito a saída em ombros pela porta dos Príncipes.

Não me lembro de ter visto tourear como toureou Manzanares no dia 23 de Setembro em Sevilha.

Atrevo-me a dizer que José Mari Manzanares é, neste momento, o maior do mundo taurino.


José Zúquete