MANIFESTO DA DIRECÇÃO: Este blogue “www.sortesdegaiola.blogspot.com”, tem como objectivo primordial só noticiar, criticar ou elogiar, as situações que mais se distingam em corridas, ou os factos verdadeiramente importantes que digam respeito ao mundo dos toiros e do toureio, dos cavalos e da equitação, com total e absoluta liberdade de imprensa dos nossos amigos cronistas colaboradores.

segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

P'a que a terra não esqueça - Ant. Pelarigo..

Dói muito ver partir um amigo, que foi também um enorme fadista



Cantei com ele dezenas de vezes, a primeira das quais - se não me falha a memória- nos "Marialvas em Santarém em 1973. A partir daí estreitou-se uma profunda amizade, que tinha os seus pontos altos na sua casa nas "Caneiras", por onde o Tejo passava rente saboreando o fado, ao mesmo tempo que admirava as construções palafitas tipícas da terra, dando ao fado uma profundidade diferente e um sentimento tão profundo, que até mesmo os maiores fadistas que por ali passaram se sentiram tocados pelo ambiente ribeirinho.


O António Pelarigo, p'rós amigos o "Cabaré", gostava de receber e sabia receber. A sua casa era sempre o "porto de abrigo" dos amigos, e nos dias de corrida em Santarém ali se juntavam o J. Luís Cardoso, o Arimateia, o Simão Comenda, o Miguel Capinha Alves, eu e mais uns tantos para viver a amizade, e saborear uma açorda de Sável inigualável, bem como tudo o que ali era servido.
O fado acontecia naquele espaço a qualquer hora do dia, porque o "Cabaré" era o fado, mas para mim era á tardinha que o trinar das guitarras e a voz do António, mais sobressaiam como que acompanhando a corrente dolente do tejo.

Um dia pediu-me que escrevesse um poema para ele cantar. Escrevi dois poemasecos que nunca chegou a cantar porque a doença já o minava. Rasguei-os quando soube do seu passamento..

 O fado cantado pelo "Cabaré" era o cansaço duma alma forte que o  reinventava num processo de ritualização das práticas artísticas, que dignificavam o gênero perante todos extractos  sociais e em todas as idades. 

Se a verdadeira amizade é um relacionamento de verdade, de partilha e de aceitação, respeitando os nossos amigos como são, então ninguém melhor que o Pelarigo sabia o que era a amizade.

Foi todo um caso como fadista, foi todo um Português, foi todo um amigo, deixou saudades ... e por ser assim, escrevi esta crónica P'RA QUE A TERRA NÂO O ESQUEÇA..

PS - Este fado que se segue era o que eu mais gostava de o ouvir cantar..